Já lá vai um ano após o desaparecimento de José Aragão, que foi um dos melhores cantores santomenses. Ele e o seu companheiro Juvenal Lopes foram os fundadores em 1967 do Conjunto “OS ÚNTUÉS”, (nome proposto por Dr. Sardinha para que não se apagasse das nossas memórias). 

O grupo marcou três gerações de santomenses. Muito cedo e por influência de um discurso do pan-africanista Jomo Kenyatta, que lhe contara um amigo, começou por dissimular mensagens metafóricas através de letras de canções com vista a levar a população a tomar consciência do seu estatuto, isto é, interiorizar a sua situação de inferioridade produzida pelo sistema colonial. Sabia bem que era uma etapa necessária para qualquer exigência de emancipação futura. Foi assim que recebeu, das mãos do compositor Orlando Graça, a letra da canção “Ôssobô”; sabia que poderia haver mais do que uma interpretação, mas decidiu cantá-la publicamente. Claro que os informadores da polícia política forneceram imediatamente a tradução e a sua possível interpretação. Isto levou o nosso artista a passar por interrogatórios nas instalações da PIDE-DGS. Leiam a letra e ouçam a música na voz do próprio artista José Aragão.

Letra

Ôssobô ê,
Bô colê cu munqué ni  ké
Mat´ine mina dê
Toma Ké cuá bô

Clupa na sa dji bô fa
Punda Dêçu dá bô pena
Quecê di cani

Magi ôssobô
Djá tlovada cá venta
Pa suba sobê luma

Cu ké futadu ca kiê mé
Bô ca moiá
Solá zuntaua uê
Cu aua suba

Non cá bilá tê pena bô
Punda clupa na sá dji bô fa
Dêçu dá bô pena
Quecê di cani